A cultura não é um mero adorno no contexto educativo — ela é um fio vital que atravessa todas as idades, promovendo aprendizagem, inclusão e cidadania. No ODS-4 (Educação de Qualidade), sua contribuição é ampla e profunda. A seguir, exploramos como a cultura pode apoiar as principais metas desse objetivo global.
Aprendizagem ao longo da vida: arte sem limite de idade
O aprendizado artístico e cultural não tem idade. A arte é um território sempre aberto à curiosidade, à expressão e ao encontro — e, no caso de pessoas idosas, tem efeitos amplamente comprovados sobre o bem-estar físico e emocional.
Uma revisão científica publicada pelo The Gerontologist e disponível no repositório da U.S. National Library of Medicine analisou dezenas de estudos sobre os efeitos das artes na terceira idade e concluiu que:
“Participatory arts can improve memory, creativity, problem‐solving, everyday competence, reaction time, balance/gait, and quality of life in older adults.”
(Participatory Arts for Older Adults: A Review of Benefits and Challenges, Noice, Noice & Kramer, 2013. Fonte: PMC)
Ou seja: atividades artísticas participativas — como música, teatro, pintura ou escrita — promovem melhorias cognitivas, físicas e afetivas, além de elevar a qualidade de vida e o senso de pertencimento.
Mais recentemente, uma revisão sistemática publicada no periódico Frontiers in Psychology reforçou esses achados:
“Active and receptive arts engagement was found to be an effective approach to reduce cognitive decline and improve well-being and quality of life in healthy populations.”
(The role of arts engagement in reducing cognitive decline and improving quality of life in healthy older people: a systematic review, Fioranelli, Roccia & Garo, 2023. Fonte: Frontiers in Psychology)
Essa constatação comprova que a prática artística — tanto ativa (criação) quanto receptiva (fruição) — atua como educação permanente, fortalecendo a saúde mental, o equilíbrio emocional e a qualidade de vida em idades avançadas. Em outras palavras: a cultura é um caminho legítimo de aprendizagem ao longo da vida.
Meta 4.4: Competências técnicas e profissionais + economia criativa
A meta 4.4 do ODS-4 propõe ampliar o número de jovens e adultos com habilidades técnicas e profissionais para o emprego. E é justamente nesse ponto que a cultura e a economia criativa se destacam.
De acordo com dados recentes da UNESCO, divulgados pelo portal Nonada Jornalismo Cultural (2025):
“O setor cultural representa 3,55% das vagas de emprego e 3,39% do PIB mundial, segundo relatório da UNESCO sobre a economia criativa.”
— Nonada Jornalismo Cultural, 2025
Esses números demonstram que a economia criativa é hoje um motor essencial da economia mundial. Formar pessoas em áreas culturais — como música, design, produção cultural, audiovisual, teatro ou patrimônio — é também capacitá-las para ingressar em um dos setores mais dinâmicos e resilientes da economia global.
Ao oferecer formação artística e cultural, amplia-se a empregabilidade, estimula-se a inovação e cria-se um ambiente de trabalho mais inclusivo e conectado à criatividade humana — um ativo que nenhuma automação substitui.
Meta 4.5: Inclusão e equidade — levar cultura aos que ficam à margem
A meta 4.5 do ODS-4 propõe eliminar desigualdades de gênero e assegurar o acesso à educação para pessoas em situação de vulnerabilidade — incluindo pessoas com deficiência, povos indígenas, minorias e populações marginalizadas.
Nesse sentido, a cultura é uma ponte poderosa para a inclusão. Projetos culturais e artísticos comunitários, realizados em periferias urbanas, territórios indígenas ou instituições sociais, oferecem oportunidades de aprendizagem e expressão simbólica a quem foi excluído da educação formal.
Oficinas de teatro inclusivo, ateliês de artes visuais acessíveis, aulas de música comunitária ou projetos de memória e identidade são espaços educativos nos quais se aprende com o corpo, a emoção e a convivência. Através deles, pessoas retomam trajetórias interrompidas de aprendizagem e reconquistam autoestima e cidadania.
Assim, a cultura democratiza o direito à educação, tornando-a mais humana, significativa e conectada com os contextos reais das pessoas.
Meta 4.7: Cultura como eixo na educação para sustentabilidade, cidadania e diversidade
A meta 4.7 propõe que todos adquiram conhecimentos e competências para promover o desenvolvimento sustentável, os direitos humanos, a igualdade de gênero, a cultura de paz, a cidadania global e a valorização da diversidade cultural.
A arte e a cultura são ferramentas insubstituíveis nesse processo. Quando escolas e projetos educativos incorporam manifestações culturais diversas — locais, regionais e internacionais —, as crianças e jovens aprendem a reconhecer as múltiplas formas de ser e de viver no mundo.
Essa convivência com a diversidade cultural promove empatia, pensamento crítico e sensibilidade ética — dimensões essenciais para uma educação voltada à sustentabilidade e à convivência pacífica. Ensinar arte é também ensinar a olhar o outro, compreender o contexto e criar soluções coletivas para os desafios contemporâneos.
Síntese
A cultura promove educação de qualidade de forma ampla e integrada:
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Educação ao longo da vida (benefícios cognitivos e afetivos da arte na terceira idade);
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Formação para o trabalho e inovação (economia criativa como motor de emprego e renda);
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Inclusão e equidade (acesso à educação via projetos culturais comunitários);
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Educação para sustentabilidade e cidadania global (arte como espaço de diálogo e diversidade).
 
Investir em cultura é, portanto, investir numa educação que dura toda a vida, que valoriza o ser humano e que forma cidadãos mais críticos, criativos e solidários — pilares fundamentais do desenvolvimento sustentável.
Bibliografia
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Noice, T.; Noice, H.; Kramer, A. F. (2013). Participatory Arts for Older Adults: A Review of Benefits and Challenges. The Gerontologist / PMC – U.S. National Library of Medicine.
Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4229893/ - 
Fioranelli, M.; Roccia, M. G.; Garo, M. L. (2023). The role of arts engagement in reducing cognitive decline and improving quality of life in healthy older people: a systematic review. Frontiers in Psychology.
Disponível em: https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2023.1232357/full - 
UNESCO. (2022). Re|Shaping Policies for Creativity: Addressing culture as a global public good. Paris: UNESCO Publishing.
Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000380474/PDF/380474eng.pdf 
								
															
				
															







